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Inventário Florestal do Estado de São Paulo 2020

24/07/2020 - Por rodolpho bochicchio do amaral schmidt
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Ontem tive o prazer de acompanhar, pela internet, o lançamento do inventario florestal do estado de São Paulo 2020. Viva a ciência e a tecnologia!!! Viva o estado de São Paulo!!! Sempre a frente neste País. Agora, passado o momento e clima, merecido, de festa do lançamento, início algumas ponderações, com a frase de um amigo...Está bom, mais pode melhorar.

A grande maioria dos envolvidos neste lindo trabalho tem na preservação de florestas nativas seu ganha pão, porem moram em cidades, vivendo uma rotina distantes das florestas, em uma casa limpa e higienizada diariamente, com lindas torneiras cromadas, sentido quase nunca, na pele, a presença de um berne ou de um carrapato. Vale lembrar que próximo a estas florestas, mapeadas neste belo trabalho, existem os proprietários rurais e moradores do campo, vizinhos das florestas, que sentem, na pele, diariamente, não só as alegrias, mas também as tristezas de preserva-las. Portanto é preciso enxergar, que estes cidadãos, vizinhos das florestas, precisam de mais respeito, e quando digo respeito quero dizer, é preciso converter os jargões politicamente corretos em ações concretas capazes de gerar um ganho financeiro mensal, para um produtor ou proprietário rural produzir e preservar em terras paulistas, equivalente ao que ganham os cidadãos urbanos, envolvidos na preservação ambiental, para trabalharem em suas cátedras atrás de computadores.

Para tanto o PSA - Pagamento por Serviços Ambientais deve ser feito da mesma maneira que se paga para obter um saco de feijão, um quilo de mexerica, ou uma porção de mandioca. Hoje o que se faz de PSA, não só em São Paulo, mais em todo Brasil...na verdade pouquíssimos lugares do Brasil...deveria se chamar ECGSA – Esmola Centralizada pelo Governo por Serviços Ambientais. É certo que esta ECGSA elevou minimamente a cobertura florestal, porem a que preço? Um preço justo aos moradores do campo, aos proprietários rurais, que sucumbiram suas terras ao abandono ou arrendamento pela inviabilidade financeira da produção, pelo desgosto devido a multas descabidas, ou por saber de propinas pagas pelo vizinho? Um preço justo com as empresas que faliram executando serviços de reflorestamento a preços inviáveis, sucumbindo a concorrência desleal, esfoladas por contratantes iludidos por artigos acadêmicos,  buscando preços inviáveis para contratar mão de obra via CLT. O pior, contratantes que muitas vezes gastavam o quadruplo em verba de marketing, do que gastavam com o pagamento dos serviços executados, pagando para plantar, mas não para manter mudas, fazendo o que antigamente chamariam de, serviço para inglês ver.

Espero que todos envolvidos nesta árdua missão, de recuperar os ambientes naturais do estado, percebam a necessidade de evoluir este ECGSA para um PSA verdadeiro. Um PSA descentralizado, de base mercadológica, como funciona para qualquer pessoa física ou jurídica, como por exemplo o pagamento para a produção e venda de alimentos no campo e na cidade. Precisamos avançar na evolução da preservação ambiental no estado. Somente quando o morador do campo tiver um ganho financeiro mensal similar ao dos professores, pesquisadores, políticos, e ativistas, que se esforçam para preservar florestas, ou mesmo advogados, médicos, cineastas, engenheiros, top models, jogadores de futebol e sei lá mais que profissão que respira na cidade, é que teremos florestas justamente preservadas em larga escala no campo, colocando assim na mesa do paulista a comida e o meio ambiente necessária para a sobrevivência da biodiversidade, do indivíduo e consequentemente da coletividade.

Enquanto isso não acontece, espero que poupem cada vez mais os ouvidos alheios dos jargões politicamente corretos. E aí encerro com a frase, pimenta nos olhos dos outros é refresco, ou melhor, e literalmente, floresta na propriedade dos outros é refresco. Se a sociedade quer florestas preservadas, a sociedade deve pagar dignamente por estes serviços, assim como pagaram, no passado, para o serviço oposto, na verdade não pagaram de forma digna também para derrubarem as florestas. Lembremos, serviço não remunerado adequadamente é serviço escravo, seja ele para cortar ou plantar.

Não somos uma colônia escravagista a muito tempo, mas o morador da cidade ainda entende a cidade como sendo a Metrópole daqueles tempos, e a área rural como sua Colônia, Puxa como é difícil apagar esta mácula de nossas consciências. Não seria justo, um produtor rural ter o mesmo ganho financeiro para produzir e preservar florestas, na pratica, como tem um acadêmico para preservar na teoria? ou um político na canetada? ou um ativista ambiental na internet? Está na hora de fecharmos este ciclo, o dinheiro tem que chegar de verdade na ponta, é hora de ação.

Críticas findadas encerro. Que bela ferramenta tecnológica temos na mão com este inventário 2020, quantas coisas boas podemos fazer para, e com, a coletividade!! Parabéns aos envolvidos e ao Estado de São Paulo.

Vamos em frente!! A sociedade também deve evoluir, a sociedade também deve regenerar, que se forme o estágio inicial, o pioneiro aparentemente estamos vencendo!!!

Clôdo, Rodolpho Schmidt, Eng Florestal, Vice-Presidente da Aproapa – Associação dos Proprietários Rurais da Apa de Campinas, Conselheiro do COMDEMA Campinas, Presidente do Grupo CBFT – Cia Brasileira de Florestas Tropicais.

 

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