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É assim que começa (Big-Ben; F97)

21/02/2022 - Por mauricio palma nogueira
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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Precisamos entender que a consequência nefasta da polarização tem como resultado o populismo.

 

Engana-se quem acha que estará do lado vencedor. Primeiro porque o populismo opera para ambos os lados até que, finalmente, um se fortaleça a ponto de se impor sobre tudo e todos.

 

A história nos mostra que as ditaturas avançam cegamente. As cores ideológicas só importam no início para logo depois ser substituída pelo apego ao poder. Esse é outro engano daqueles que aplaudem o relativizam a existência de ditadores.

 

Parece exagero, mas sempre tem um começo.

 

Combater esse trajeto enquanto está no início é função dos formadores de opinião. A expressão, hoje contaminada pelo surgimento do influencer, precisa ser melhor compreendida.

 

Formador de opinião é aquele que reúne condição de interpretar melhor os acontecimentos. São pessoas que tiveram acesso a estudo e que sua atuação profissional os obriga a continuar se atualizando, lendo ou até escrevendo sobre determinados assuntos (artigos, teses, relatórios, pareceres, revisões bibliográficas, etc.). Formar opinião não implica em um título, mas sim em uma postura.

 

Infelizmente temos visto diversos cidadãos capazes de cumprir este papel agindo de forma descuidada quando se posicionam.

 

Um dos principais exemplos dessa conduta imprópria é direcionar suas opiniões às pessoas, através de adjetivos e julgamentos precipitados sobre terceiros. O foco do argumento passa a ser o indivíduo e não o conteúdo.

 

Geralmente essas desqualificações são jocosas e exageradas, com o objetivo de desencorajar os demais a ouvir ou ler o que determinada pessoa tem para dizer.

 

É uma forma de censura estabelecida por quem tem preguiça ou incapacidade de discutir os argumentos. Se a pessoa é tão desprezível assim, não seria mais fácil demonstrar através do conteúdo que ela defende?

Se descontruir o conteúdo da pessoa é difícil, talvez seja porque ela não tenha dito algo tão absurdo assim, não é mesmo?

 

Outro erro é desqualificar o indivíduo por opiniões sobre outros temas que não estão em discussão no momento. É preciso entender que o pensamento não vem em pacotes por atacado. Quando mais livre for a mente de determinado indivíduo, menos previsível ele será diante de determinados temas. São essas as pessoas mais capazes de trazer uma visão diferente do mundo. Vamos desprezá-las em nome da polarização?

 

Direcionar a discussão ao indivíduo irá tirar toda a possibilidade de conduzir o debate com objetividade. As vezes um assunto sério será tratado simplesmente pela separação entre os que "gostam" ou "não gostam" de determinado indivíduo. Morre o pensamento, morre a argumentação embasada.  

 

É comum ver pessoas com currículos extraordinários opinando sobre determinado texto ou vídeo sem ao menos tê-lo acessado.  De imediato já desqualifica o autor, influenciando as decisões dos demais que poderão, ou não, acessar.  É o tão conhecido "não li e não gostei", uma das posturas mais insensatas e, infelizmente, comum entre a elite que passou por ensino superior no Brasil.

 

Goste ou não, qualquer pessoa que tem condições de opinar é um influenciador. A questão é qual arsenal interno irá usar para exercer essa influência. Será seu conhecimento e seu preparo acadêmico ou serão seus preconceitos?

 

Quanto tempo irá levar para que a censura prévia do "não vale a pena ser lido" evolua para "vamos queimar os seus livros"?

E depois? Se só escreve algo que serve pra fogueiras, por que não fuzilá-lo antes que escreva?

 

Estamos vivendo um momento em que, recentemente, uma revista científica publicou um estudo dedicado a atacar um outro pesquisador. Muita gente defendeu essa manifestação simplesmente por não gostar deste pesquisador, alvo de uma fofoca embalada como estudo.

 

Mesmo não gostando de determinada pessoa, temos que defendê-la de ser tratada de forma indigna, covarde, agressiva. É a isso que damos o nome de civilidade. Existem regras para punir os que saem da linha. Existem instituições, comissões de ética, justiça.

 

Quem aceita que outros sejam tratados de forma autoritária, vil e humilhante é porque acredita que esse tipo de tratamento não o atingirá em nenhum momento. Ingenuidade.

 

Como será que essas pessoas imaginam que os extremos começam? Não é de uma vez, repentinamente da noite para o dia. Isso ocorre de forma gradual, sempre com omissão de uns e conivência de outros.

 

Nenhuma fogueira resistirá por muito sem que haja combustível. Precisamos dar mais foco aos conteúdos e parar de discutir pessoas.

 

Maurício Palma Nogueira (Big-Ben, F-97) é engenheiro agrônomo, sócio da Athenagro, coordenador do Rally da Pecuária, ex-morador da República Jacarepaguá

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