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Dr. Cachorrão vai deixar saudades

29/03/2023 - Por antonio martelli filho
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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Nasceu aos dezessete dias do mês de junho de 1920 em Campinas, São Paulo.

Estudou no Colégio "Culto à Sciencia", fundado em 1873 e inaugurado em 1874, mesma escola de Alberto Santos-Dumont. Terminado o Científico (hoje, Ensino Médio) foi para Piracicaba - SP cursar Engenharia Agronômica na Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", fundada em 1900 como Escola Agrícola Prática de Piracicaba e que, 34 anos depois, junto com outras 6 Instituições do Estado de São Paulo deu origem à Universidade de São Paulo. Sempre disse que foi lá na ESALQ que viveu a melhor época da vida e fez amigos que o acompanharam por longos anos.

Já formado, trabalhou no Consulado dos EUA na capital paulistana e depois ingressou no funcionalismo público como agrônomo. Viajou por todo o estado visitando e assessorando fazendas de café. Depois fixou residência em Ourinhos - SP, onde em 1957 ao lado de colegas, fundou o "Ourinhos Tênis Clube", sendo o primeiro presidente da Diretoria Provisória. Aposentou-se em São Paulo mas nunca deixou a agronomia e durante muitos anos trabalhou realizando agrimensura em propriedades por todo o estado de São Paulo.

Apaixonado pelo campo, a "menina dos seus olhos" era seu pequeno sítio "Monjoli" (do francês Mon Jolie) no município de Itú - SP. Era seu refúgio da agitação da cidade. Plantava café e dezenas de frutas. Cuidava de suas vacas e do pasto. Fazia longas caminhadas e jogava tênis na quadra de saibro construída e mantida por ele próprio.

Foi lá que passei inúmeros finais de semana da minha infância, pegando as frutas no pé, andando pelo mato, jogando bola, brincando na lagoa e cachoeira, tomando leite tirado da vaca na hora e respirando ar puro, como ele gostava de falar.

Sua energia vital era fora do comum. Sempre comeu e bebeu com moderação. Praticou esportes a vida toda, sendo o tênis sua grande paixão. Durante muitos anos jogou no Club Athletico Paulistano. Outra interesse era o xadrez, sempre estava estudando e jogando.

Adorava viajar. Conheceu grande parte do mundo. Amava a Itália, país que visitou algumas vezes. Estudou inglês e italiano. Foi intercambista em Brighton (Inglaterra) e morou numa casa de família quando já tinha mais de 70 anos! Aos 90 anos fez um "mochilão" pela Europa com um dos netos.

Muito hábil e talentoso, dedicou parte da vida à pintura e hoje suas telas estão espalhadas por toda a família. Foi um ótimo mágico. Conhecia mil truques e animou muitas reuniões familiares com sua caixa de mágicas. Adorava ler. Sempre estava com um livro na mão. Religiosamente lia pela manhã "O Estado São Paulo" e não deixava de fazer as palavras-cruzadas. Católico Apostólico Romano, lia diariamente a Bíblia e acompanhava pela TV a missa da Basílica de Aparecida.

Seu coração era verde. Nunca deixou de acompanhar o Palestra Itália. Aos 22 anos viu seu time mudar de nome para Palmeiras. Viu Oberdan, Junqueira e Fiúme. Depois viu Valdir, Djalma Dias e Santos, Julinho e Ademir. Viu todas as "Academias". 

Adorava sua motocicleta e aos 70 e tantos anos, andava por toda a São Paulo (para desespero da família!). Depois, a Honda virou mais um atrativo do sítio. Dirigiu seu automóvel até os 100 anos. Manteve-se lúcido até seu última dia de vida.

Faleceu aos vinte e seis dias de março de 2023, sem sofrimento, de causas naturais ao lado filha e amparado por toda a família. Foi velado pelos Martelli, Mandarano, Filippi, Coelho e tantos outros parentes e amigos. Foi sepultado ao lado da avó, pai, mãe e irmãs.

Antônio Martelli Filho deixa três filhas, cinco netos e seis bisnetos. Mais do isso, deixa centenas de lindos momentos e histórias que o manterão vivo em nossos corações.

Aos 44 anos despeço-me do meu avô. Ele esteve presente em toda a minha vida, meus aniversários, formaturas, casamento. Quanto tempo passei com ele. Muito obrigado, meu querido avô.

Deus foi generoso. Que Ele, em sua infinita misericórdia, o receba em seus braços.


Luiz Mandarano Filho - neto e colega de USP (FMRP USP - formado em 2002)


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