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DA TERRA, DA ÁRVORE, DA VIDA

10/06/2021 - Por paulo antonio petraquini greco
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Paulo A. P. Greco

"Estampilha" - A-68

(In Memoriam)

 

Publicado por:

Carlos O. L. Jorge

A-68

 

Jovino vinha cambaleando pela trilha encharcada que atravessava o que ainda restava da floresta, acompanhado do cão Fumaça.

Parcialmente embriagado, coxeava para a esquerda, em decorrência da manotada da vaca Braúna que lhe reagiu a uma ordenha mal feita, quando sofria de mamite e frio nos tetos, tempos atrás.

O cão apesar de solidário ao dono, coxeava para a direita, sentindo a cicatriz da dentada do lobo vermelho que o desafiou, quando defendeu as galinhas do sítio empoleiradas na cerca.

Coxear para lados diferentes era a única divergência entre Jovino e Fumaça. No restante eles se entendiam e completavam uma dupla que além de boêmia, era preguiçosa-sempre, para desespero da mulher de Jovino, que desde o começo do casamento deixou claro que iria exercer um matriarcado incontestável.

Ambos entraram sorrateiramente na casa e solidários, foram descansar em cima de montes de palhas barulhentas.

Este roçar de palhas registrara outrora, noites animadas com atos de amor do casal que agora já tinha dificuldade até de se olhar.

A matriarca percebeu a clandestinidade do ato dos dois companheiros de noitada e ócio - Fumaça também traía as fêmeas do sítio, abordando cadelas no cio - e determinou:

- Jovino! Levante-se! Você bebeu a noite toda e vai querer fuçar aí deitado como um paxá. E eu que me arranje sozinha! Vamos, não vê que o Raimundo vai chegar com o carro a qualquer momento- daqui a pouco?

Marina começou a sacudir energicamente o marido, estendido num canto da casa, sobre o monte de palhas barulhentas.

- Ora, mulher, não me amole! - murmurou Jovino, irritado, voltando o rosto para a parede.

-Preciso colocar tudo em frente da casa; assim vai ser mais fácil ajeitar no carro. O milho ainda não está no saco e é preciso transportar as batatas doces do sítio. Meu Deus! É tanto trabalho que não me aguento: e ele dormindo, em vez de me ajudar!

 Jovino!- gritou, lançando-se sobre o marido, aborrecida. Se não levantar-se, vai sobrar pra você!

_ Mulher, ouça o que lhe digo: Não me amole- pediu ele mansamente.

Virou-se de bruço, encobriu a cabeça com um velho lençol e ficou imóvel, indiferente aos gritos e queixas da mulher.

_ É uma miséria! Desde que me casei estou tendo uma vida tão esquisita que tenho que viver de esmolas, como os mendigos. Sou filha de proprietário e me vejo na obrigação de ir trabalhar na casa dos outros, como uma rejeitada.

Assim se lamentava a mulher de Jovino, enquanto tirava os santos de parede. Embrulhando-os em panos velhos e xales, levou-os para frente da casa, sob a proteção do beiral do telhado. Deteve-se no patamar e olhou a estrada brilhante e diluída que atravessava uma área da mata recentemente cortada - área que se estendia em torno da casa, juncada de montes de galhos e pilhas de árvores abatidas. Ela olhava, à espera de Raimundo, que deveria chegar com o carro, para transportar os móveis para a vila. Nada se via na estrada, a não ser flocos de neblina espessa que flutuavam baixo e algumas poças d'água. Uma chuva fina e penetrante insistia em cair.

Depois de dar um profundo suspiro, a mulher assoou o nariz ruidosamente, envolveu com um olhar tristonho a casa que iria deixar e dirigiu-se para o outro lado, onde se encontrava a vaca. Já haviam levado para fora o cocho e a grade. Viam-se ali o guarda-louça envidraçado, amarelo com flores vermelhas e prateleiras pintadas de azul, tamboretes, bancos, uma mesa de onde se erguia um crucifixo negro com um rosário enrolado, bacias, sacos de batata, feixes de capim atados com uma correia, duas camas, prateleiras e um monte de coisas misturadas. Uma enorme porca, suja de lama, estava estendida no chão, presa pela perna a um pequeno pinheiro que se erguia à frente da janela. A porca grunhia porque os porquinhos lhe puxavam as tetas, dando também pancadas com os focinhos.

_Braúna! Braúna!- murmurou a mulher, acariciando ternamente o pescoço da vaca.

Estendendo a cabeça para frente, a vaca lambeu com a língua áspera, os braços nus da mulher, até os ombros.

Com os olhos mergulhados em lágrimas, a mulher afastou-se, ganhando o corredor.

Pi! Pi! Pi! - pôs-se a chamar assim as galinhas, que estavam trepadas na cerca, todas juntas.

Jogando um punhado de milho para atraí-las, apanhou uma a uma, prendeu-lhe as asas e colocou-as dentro de um grande cesto de bambu. De novo olhou para fora. No atalho que vinha da vila distante e que mal se percebia, através da neblina e da chuva, apareceu a garota.

- Adriana! Depressa!- gritou, ameaçando com a mão, a menina que corria.

Descalça, xale na cabeça, de modo que mal se via um pouco do seu rosto azulado de frio, Adriana deteve-se e tirou de sob o avental uma garrafa de aguardente, meia dúzia de pequenos pães e um pedaço de salame vermelho.

-Por que demorou tanto? Andou passeando por aí, não é?

- Ora! Vim voando pela estrada! Nossa Senhora! O caminho é tão longo que eu tive que correr como lebre e mamãe ainda me diz que eu demorei muito! Era bom que fosse você mesma então, ou papai poderia ter ido!- respondeu a menina, lamentando-se, enquanto esfregava um pé no outro e apertava as mãos azuladas pelo frio.

-Ora essa, ainda me dá respostas, sua piolhenta! Dizendo isso, a mãe deu-lhe um tapa nas costas.

Adriana acocorou-se diante da chaminé, onde havia um resto de fogo e pôs-se a chorar, enquanto procurava esquentar as mãos perto das brasas.

Entretanto, a mãe retirou ainda alguns móveis, fitou a estrada, sempre deserta, bateu a porta e, irritada, deu um pontapé no velho cachorro cor de vinagre, semelhante a um lobo guará - e que andava de um lado para outro, rabo entre as pernas, desajeitado, arrastando-se pela casa, sem saber encontrar um lugar.

Reinava silêncio na sala; lá fora, a chuva tamborilava nas latas velhas e ouvia-se o rumor abafado de machado, no corte da lenha. Uma penumbra baça e pesada dominava a casa, atravancada de móveis. As paredes, com a cal esmaecida, pareciam ainda mais cinzentas.

A água encharcava o chão de barro que servia de assoalho e provocava uma lama pesada e viscosa. Dois patos a revolviam com o bico, à procura de alimento. Pelas vidraças quebradas de uma pequena janela ao lado, penetrava vento com chuva, movendo a palha dispersa na terra e agitando as bandeirinhas de papel vermelho que pendiam do teto e enfeitavam as vigas.

A mulher atravessou o pequeno pátio vazio, coberto de folhas apodrecidas, caídas de fruteiras plantadas perto da cerca- folhas que ficavam coladas, como placas de sangue, no monte de estrume e no teto de ripas, quase desabado, do chiqueiro em ruínas. Ela se dirigiu para trás do outro galinheiro que se encontrava mais afastado, localizado numa pequena área cuja terra fora revolvida para a colheita de batatas doces e estava coberta de folhas secas e tubérculos apodrecidos. Arrancando um feixe de capim para a vaca e lançando ao redor um olhar triste e voltou, sempre fazendo esforço para conter as lágrimas que lhe corriam dos olhos. Deteve-se no patamar, meteu a cabeça entre as mãos e estendeu o olhar aparvalhado e perturbado pela amplidão cinzenta.

- Meu Deus! Meu Deus!- gemeu baixo, angustiada, pondo-se em seguida, febrilmente, a arrumar e colocar fora seus pobres móveis

Com o coração apertado, sentia uma grande dor por ter de deixar a casa - quase uma cabana - onde tinha vivido tantos anos. Em dados momentos tinha tais ímpetos e sofria de tal modo que sentava no patamar e chorava â vontade, sem o menor ruído, sacudida por fortes soluços.

O marido continuava deitado. Rolava de um lado para outro, esfregava com os punhos os olhos vermelhos, dando tais suspiros que o cão Fumaça se aproximou, latiu baixinho, alisou com a pata a pele de carneiro e agitou a cauda. Vendo que o patrão não lhe prestava atenção, voltou para perto do fogo, deitou-se próximo a Adriana e pôs-se a cochilar, com olhos sonolentos, olhando brasas que se apagavam.

Finalmente Raimundo chegou, pouco antes do anoitecer, com o carro puxado por dois bois mestres.

- Louvado seja o Senhor! - foi dizendo, ao entrar na casa, com o ferrão na mão.

- Para sempre seja louvado! - respondeu Jovino, erguendo-se da cama.- Sempre bem-vindo, compadre e Deus o recompense por não haver nos esquecido!

- Ora, nada disso! O que há é que chove tanto que temos água até os olhos- no caminho a lama é terrível e o frio queima tanto quanto fogo.

- Bem, é preciso arrumar tudo agora para chegarmos à vila antes da noite.

-Mãos à obra, ora essa!

Dizendo isso, Raimundo colocou o chicote num canto, esquentou as mãos e tirando uma brasa vermelha, colocou-a no pito apagado, Sentou-se na arca que ainda não havia posto do lado de fora e ficou em frente à janela, tirando baforadas dentro da casa.

A mulher colocou na borda da janela a aguardente, a carne seca e o pão dormido.

-Tome um gole com Raimundo, Jovino!

-Ora, para que tanto incômodo? - indagou o camponês, como a recusar, mas respirando, ávido, o cheiro de alho que vinha do tempero do arroz que a mulher preparava.

- À sua saúde, Raimundo!

- À sua!

Jovino esvaziou o copo, cuspiu de lado, limpando os lábios com a manga e encheu o copo de novo.

- Agora é a vez, mulher! Vamos, beba um copo!

A mulher afastou-se um pouco e bebeu a aguardente aos golinhos enquanto os homens partiam o pão dormido e o comiam, mordendo, de vez em quando, um naco de carne seca.

- Vamos, mais uma rodada, para que tudo corra bem!

- São meus votos!

- Vendendo a madeira, o proprietário tem direito à champanha. Nós temos que nos acostumar com a aguardente! Desgraçado! Tomara que o diabo o carregue para o inferno!- praguejou com ódio, entre os dentes.

Olhou com desprezo, através da janela, os quase invisíveis contornos azulados da casa grande.

- O que aconteceu, aconteceu; agora é preciso comprar tudo de novo, até o cabo do ferrão -  suspirou - Quando havia a floresta, embora sentíssemos um pouco de medo, vivendo de olho aberto, sempre havia meio de arranjar caça ou boas árvores para ferramentas e para cerca. Nem preciso lembrar o que o bom mato nos dava. Até lebres e aves, vez por outra tínhamos para comer. Agora, nem vale a pena falar. Tudo vai mal, tudo vai mal.

Em seguida:

- Vamos, mais uma rodada, a última! Fumaça, tome um pedaço de carne para você também! Porque você também não haveria de comer bem, se depois de tantos anos, seu proprietário tem de sair pelo mundo a procurar trabalho? Coma à vontade, meu velho!

O cão latiu baixinho, como se houvesse compreendido. A mulher começou a chorar, apoiando a cabeça na borda da chaminé, sacudida em soluços.

-Ora, um dia a vaca tem que morrer! Quando se está no carro dos outros, tem-se que descer quando chega o momento, mesmo que seja no meio do mar! - declarou Raimundo.

Tirando a cinza do pito, que guardou junto ao peito, saiu em seguida.

O casal começou então a mudança e rapidamente tirou o que havia no interior da casa. Os dois transpuseram o patamar da cabana vazia com profunda tristeza, sem olhar para trás, sem trocar uma só palavra. Quando tudo estava pronto, quando Raimundo ajeitou a carga toda no carro com os laços da corda, para que nada pudesse cair, Jovino trouxe a vaca, colocando-lhe uma corda nos chifres.

- Vamos Adriana.

A menina enrolou-se no xale e pôs-se a caminho, puxando a corda, porque a vaca resistia e mugia, voltando a cabeça pesado para a cabana, como se pressentisse que a tirava do seu meio.

- Vamos embora! gritou Raimundo.

- Imediatamente - disse Jovino.

Pela última vez entrou na casa, seguido pela mulher. Os dois olharam tudo tristonhamente, andando pelos cantos. Dispersaram a palha com os pés, fitaram as paredes, sem se decidirem a sair. Retardavam o momento de separar-se daquelas paredes.

- Jovino, vamos embora, está caindo a noite- exclamou o outro pela janela.

- Mulher, vamos indo! O Bom Deus não nos abandonará! Ele levou a mulher para fora e bateu a porta atrás de si.

- Em nome do Pai, do filho, e do Espírito Santo, vamos embora - disse ele, sombriamente.

Apertou o cinto, por sobre a sua pele de carneiro, fechou a cara e os dois saíram. A mulher puxava a porca por uma corda e chorava alto. Jovino cercava a fila; olhava tristemente os montes de árvores despidas de casca, como cadáveres nus estendidos no campo de batalha, os feixes de galhos já amarelecidos, as centenas de troncos que, como fustes de colunas invertidas, branqueavam, às margens da estrada, os buracos fundos cheios de água e as veredas que mal se distinguiam e que tomavam todas as direções, obstruídas por árvores deitadas. Bem conhecia aquilo! Conhecia cada fosso. Quase cada árvore - pelo menos as mais gordas - cada um dos atalhos que, como ruas, cortavam a floresta em diferentes direções! Durante vinte anos fora guarda naquela floresta. Ali na mocidade, havia trazido o gado para pastar -  só ali havia vivido. Crescera quase com as árvores, sentia-se aparentado com aqueles gigantes que agora jaziam inertes, sem a cúpula, sem os galhos, sem vida, como corpos deformados, lamentáveis, sacrificados. As tempestades nunca haviam vencido a floresta, nem os raios que a tinham atacado mais de vez, nem as ventanias que haviam fendido muitas árvores. O machado surgira e a floresta caíra como um cadáver. Que poderia ele fazer mais ali? Não queria ser entre os compradores, o empregado que vigia os serrotes; preferia ir embora, mundo afora, procurando trabalho, a ficar esperando de braços cruzados. Cobriu com um olhar apaixonado toda a extensão do corte, onde trabalhavam grupos de homens, com seus serrotes e machados, por onde circulavam carros carregados de vigas e de onde vinham, vagamente perceptíveis, mergulhados na distância, ruídos de vozes, rodar de carros, golpes de machados e relinchos de cavalos.

Jovino patinhava penosamente na lama; às vezes nos barrancos, empurrava o carro com os ombros; dava, por vezes, um pontapé no cachorro que se aproximava demais e ia andando cada vez mais triste. Qualquer coisa lhe queimava o coração, como se estivesse mergulhado em álcool puro. Era como se a queda dos troncos abatidos e o bater surdo dos machados, fortemente o afetassem, tirando-lhe lascas do coração. Cerrava os dentes com força, cada vez mais, porque a vontade que tinha era de jogar-se ao solo e gritar com toda a energia, desabafar a dor tremenda que o devorava; mas continuava a caminhar. A chuva caía cada vez mais abundante e parecia cada vez mais fria. As últimas árvores, coitadas, que ainda não haviam sido abatidas, ao longo do fosso deixavam cair folhas amarelas, que deslizavam ao sabor do vento como lágrimas, para descansar no leito da estrada enlameada. E outros pontos, bandos de gralhas se agitavam, não tendo mais onde fazer ninhos ou buscar abrigo.

A relva e os brotos enferrujados, pisados, estavam sujas de lama e de serragem avermelhada, em largas placas, como se rios de sangue houvessem passado pela floresta. Numa clareira, algumas vacas errantes pastavam o capim mirrado, mugindo surdamente de vez em quando. Crianças estavam sentadas perto de um fogo que chuva apagava. Dali subia uma fumaça escura, gordurosa, que se elevava em novelos: parecia uma espiral de incenso ao pé dos mortos.

O mundo enevoado estava cheio da tristeza e da melancolia infinita das árvores agonizantes. Que gemiam. Jovino tinha a alma dolorida. Uma dor cada vez mais profunda pesava sobre ele, uma cólera que lhe dava vontade de morder as pedras que pisava. Fechava os punhos, rangia os dentes, fechava os olhos para não ver nada - e andava estugando os passos.

- Um dia a vaca tem que morrer! - repetia, irritado, dando pontapés raivosos nos troncos, nos galhos, nos caramujos secos que pendiam como chapéus nos fossos à margem do caminho.

Para descansar um pouco, sentou-se ao pé de enorme salgueiro, de galhos frondosos, que se elevava na orla da antiga floresta. Essa árvore protegera a si mesma, porque tinha uma imagem da Virgem Santíssima estigmatizada na casca irregular, mutilada por um raio. Ali era o ponto extremo. Que Jovino nunca ultrapassava em suas rondas, porque as terras cultivadas começavam em seguida; dali habitualmente ele voltava. Mas agora... agora tinha de transpor o patamar sagrado da floresta para não voltar mais; iria embora por estradas e caminhos...

- Pelo amor de Deus! - e sentiu uma dor tão intensa nas entranhas que levou as mãos ao ventre e pôs-se a gemer.

- Jovino, vamos embora, depressa! Raimundo não pode esperar e a noite está caindo.

- Esta bem! Vá embora, desgraçado, ou vou dar-lhe uma surra! gritou ele, enfurecido.

- Que coisa! O porco se embriagou com aquela bebida e agora quer fazer escândalo no caminho!

- Mulher, vá embora, vá, ou lhe darei uma surra!

- Esta bem, vou deixá-lo aqui e levar os móveis para a cabana! Vamos, Jovino, venha! insistiu ela, ternamente, inclinando para ele o rosto vermelho e lacrimoso, enquanto o puxava pela manga.

_Dê o fora, por Deus e ande depressa porque vou bater em você como um animal!

A mulher sacudiu-o um pouco mais forte, Jovino ergueu-se de um salto, apanhou um galho e com ele deu uma pancada na cabeça da mulher, jogando-a no chão e ainda deu-lhe mais uns pontapés; segurou a corda da porca que durante a refrega escapara de suas mãos e saiu andando a passos largos. Gemendo alto, a mulher ergueu-se do chão e lançou-se atrás dele. Logo desapareceram no nevoeiro e no crepúsculo que caiam. As gralhas, em bando, voando acima do salgueiro, tagarelavam preocupadamente, Surgiram na estrada, que se distanciava da derrubada, vacas com cincerros que tilintavam em voz aguda.

O gado passou, perdendo-se no nevoeiro e na sombra. O canto afastou-se, cada vez mais indistinto. Os últimos rumores desapareceram no espaço e confundiram-se com o da chuva.

Pouco a pouco veio a escuridão e a umidade de uma noite de nevoeiro inundou o mundo - tudo ficou coberto por uma massa opaca e suja.

Somente a velha árvore remanescente, murmurava, semi-adormecida, deixando que suas folhas caíssem no chão.

 

Da derrubada, das árvores mortas e dos ramos ainda com vida exalava uma espécie de profundo gemido.

Um lamento/exaltação pairava no ar:

"A mulher se chama Marina"

"A floresta não tem mais nome"...

 

 

 

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