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E a Cana-de-Açúcar? 2 - De Olho em 2018 (Hulq, F99)

02/01/2018 - Por marco lorenzzo cunali ripoli
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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O setor sucro-energético brasileiro sempre contribuiu muito com o contexto sócio-político-econômico-ambiental e vem ajudando o PIB (Produto Interno Bruto) agropecuário do Brasil a crescer. Para 2018, a CNA (Confederação Nacional da Agricultura) estimou um acréscimo no PIB de 0.7% em relação a 2017, onde parte deste aumento é graças aos esforços que os empresários do setor sucro-energético veem realizando em suas operações. Ainda é possível fazer mais...

O setor necessita mudar sua atitude e começar a se planejar não apenas para o próximo ciclo produtivo e sim pelos próximos 10-15 anos, o que muitas vezes não ocorre. Minha preocupação não é quanto vamos produzir ano que vem apenas, mas sim como estaremos daqui 10-15 anos e qual será nossa contribuição para abastecer a população mundial com alimentos, combustível, vestimenta e outros subprodutos. O setor sucro-energético estará sólido e mais estruturado? Irá gerar receitas e empregos suficiente para se manter? Terá atingido redução significativa dos custos de produção? Como serão as novas tecnologias em campo, disruptivas? São muitas as perguntas que ainda tenho em minha cabeça.

O plantio da nova safra ocorreu em março e abril de 2017, já é possível perceber que a cultura sofreu bastante com 90 a 110 dias de seca ao longo do ano, em importantes áreas produtivas do país, o que comprometeu uma parte do canavial (devido ao fenômeno do "encarretelamento"). Vários episódios de incêndios (alguns espontâneos e outros, ainda, acreditem, criminosos) prejudicaram e prejudicam o crescimento adequado da cana, não permitindo por exemplo o fechamento foliar da cultura ("canopy" - área verde) o que reflete na elevação da incidência de plantas daninhas, pragas e doenças, que geraram um aumento nos custos de produção devido a necessidade de mais tratos culturais.

A colheita mecanizada, apesar de malvista por muitos órgãos e sindicatos vai continuar aumentando, pois ajuda na redução dos custos de produção garantindo que o canavial será colhido com qualidade no momento adequado, se realizada da forma correta. Ano após ano o parque de máquinas aumenta e as máquinas têm ganhado novas tecnologias. O piloto automático, gerenciamento das curvas de torque dos motores, mapas de produtividade, motores mais eficientes, telemetria e eletrificação de dispositivos são exemplos claros.

No entanto, para reduzirmos mais ainda os custos é preciso dar outros passos importantes... Por exemplo, como aumentar ainda mais a produtividade dos canaviais e das máquinas? As variedades, os diversos espaçamentos de plantio, o número de fileiras para colher de uma vez só, o consumo de combustível, a área compactada de contato com o solo são algumas das variáveis relevantes, onde fabricantes e pesquisadores devem investir em pesquisas para trazerem novas soluções.

Minha análise para a próxima safra 2017/2018 é pessimista. Vejo uma nova quebra de produção ano que vem, onde a moagem deve chegar a ~580 milhões de toneladas no Centro-Sul, a produção de açúcar de ~35 milhões de toneladas e ~24,5 bilhões de litros de álcool. O ATR da cana cai no acumulado para 78,0 milhões de toneladas e o Kg de ATR por tonelada de cana não ultrapassará os ~134,50, com um mix de produção alcooleiro a ~54%.

Enfim enquanto torço para um cenário mais positivo, desejo a todos um ótimo 2018!

 * Marco Lorenzzo Cunali Ripoli é Engenheiro Agrônomo e Mestre em Máquinas Agrícolas pela ESALQ-USP e Doutor em Energia na Agricultura pela UNESP, executivo, disruptor, empreendedor, inovador e mentor.

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