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Administração do tempo e dos estresses na vida universitária

10/05/2018 - Por evaristo marzabal neves
Atenção: Os textos e artigos reproduzidos nesta seção são de responsabilidade dos autores. O conteúdo publicado não reflete, necessariamente, a opinião da ADEALQ.

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“Tá estressado? Vá pescá”. Quem ainda não viu este adesivo em carro ou em pára-choque de caminhão? Um amigo emendava: “No remanso do rio, entre amigos, se continuar estressado jogando conversa fora (daquelas de derrubar lagartixa de parede), o negócio é se internar no meio do deserto, sozinho ou estressando camelo, deitar na areia e não incomodar os outros”. Que negócio é esse, o tal de estresse?

Um conceito de saúde diz que “é uma manifestação do corpo a um grande desgaste físico e mental. Quando aparece, o organismo libera uma dose maior de adrenalina no sangue, o que provoca a aceleração do coração e o aumento da pressão arterial. Pode ser de dois tipos: o agudo, que acontece em crises mais fortes e mais curtas, ou o crônico, desencadeado por problemas de rotina”. E segue as recomendações sobre formas de diminuir os estresses e ficar em dia com a saúde. Algumas delas: pratique exercícios, alimentação saudável e vitaminas (o corpo precisa de muitos grupos de alimentos para funcionar corretamente), deixe o cigarro de lado (a dependência à nicotina é uma ajuda e tanto para aumentar o nível de estresse) e mantenha o bom humor, via melhor controle de seus horários (no trabalho ou na faculdade, o melhor é planejar metas e administrar racionalmente o seu tempo para não se estressar com surpresas desagradáveis).  Aliás, como afirma o médico psicanalista Adilson Rodrigues “não é possível viver com uma pessoa mal-humorada contumaz. O mal-humor puxa a pessoa para trás e para baixo; pode quebrar sua criatividade e seu entusiasmo; pode roubar ou sugar sua energia; pode estragar sua alegria de viver. E pode deixá-lo isolado neste mundo de oportunidades e aprendizado”.

Embora afirmem que o estresse é uma “doença” moderna, na verdade, comemorou-se em 2016 (não sei se é possível dizer comemoração) 80 anos da descoberta do estresse. José E. Costa em reportagem da revista Você S.A. (edição 94, abril 2006, p. 68-69) escreve que “Em 1936 o cientista Hans Selye publicou o artigo que popularizou o grande vilão do mundo moderno. Deste então, tentamos conviver com ele”. Segue, com um pouco de história “Aos 28 anos, o canadense de origem austríaca Hans Selye era um jovem pesquisador do departamento de bioquímica da Universidade de McGill, em Montreal, no Canadá. Hans trabalhava num experimento com ratos de laboratório para descobrir um novo hormônio. Os resultados de sua pesquisa, no entanto, o conduziram para um outro caminho: a descoberta do que chamou de Síndrome Geral de Adaptação. O nome estranho batizava um conjunto de reações do corpo diante de situações de risco. Em 1936, o jovem endocrinologista publicou as primeiras conclusões de seus estudos no journal Nature, uma espécie de bíblia da área medica. Para definir as reações que observou primeiro nos ratos de laboratório e, mais tarde, em seres humanos, tomou da física a palavra estresse. O termo significa o desgaste sofrido pelas materiais expostos a algum tipo de pressão ou força. Naquele momento, Hans deu a luz a um dos grandes vilões do mundo moderno: o estresse”.

Colocado no mundo atual, não há duvida de que o que em 1936 era assunto nas rodinhas científicas e acadêmicas, oitenta anos depois, se popularizou e se expandiu à medida que homens e mulheres sentiam seus efeitos. Para José E. Costa “Hoje, ninguém questiona, as pessoas vivem muito mais estressadas do que há 80 anos. A explicação para isso é a infinidade de agentes estressores que passaram a fazer parte do nosso dia-a-dia. O mundo se tornou mais complexo. E, cita: “A carreira profissional, antes administrada pela empresa, agora é problema de cada individuo”. Para equacionar seus custos de produção e se manter viva no mercado recorrem à reengenharia (mudança de processos), downsizing (redução de pessoal), terceirização e formas novas de administração como a participativa, a sistêmica, times autogerenciaveis, etc. Cita, também, que as organizações estão mais enxutas, não havendo espaço para o profissional medíocre, sobrevivendo aquele que tem empregabilidade. Outro ponto importante, foi a entrada massiva da mulher no mercado de trabalho, querendo ser gerentes, diretoras, presidentes etc. Desta forma, marido e mulher dividem as mesmas angustias com relação à carreira. Considera, adicionalmente, o fator velocidade (vivemos em mundo mais rápido, contribuindo muito para isso a tecnologia). Vivemos em um mundo que não para, on line.

Diante desta “loucura” a grande pergunta é: “Após tantas mudanças no mundo moderno, como lidar com o estresse de maneira saudável?” A antropóloga Susan Andrews, estudiosa do estresse, recomenda: aprenda a intercalar os períodos de tensão, que são essenciais para o desempenho, com pausas de relaxamento para se recuperar. Afinal, “quem não se permite descansar, acaba pifando”.

Pois bem, vocês, graduando da ESALQ, ainda não estão nesta roda viva das organizações. Vamos voltar ao “nosso mundinho” e discutir as “forças ou pressão” que criam os fatores estressores.

Neste bom tempo de convivência com os jovens esalqueanos, principalmente meus estagiários, é comum ouvir desabafo quando em sala, tal como: Pô! Você está estressado. Aliás, você é eterno estressado! 

Quais as causas? Uma análise temporal evidencia algumas delas, principalmente para o curso de Engenharia Agronômica. Por exemplo, enquanto o curso de Ciências Econômicas é disciplinar (ou você gosta ou não da carreira que escolheu), o de Engenharia Agronômica é eclético e abrangente (a ESALQ foi criada para atender a formação de um profissional, que antes da reforma que estabeleceu e criou os Departamentos, o graduando em agronomia passava por 23 Cadeiras, depois 17 Departamentos, e, finalmente após a reestruturação departamental, em 1998, por 11 Departamentos e 12 nos dias de hoje que compreendem as áreas das ciências biológicas, tecnológicas, sociais/humanas e basicas/exatas. E, tome créditos e mais créditos em tempo integral.  Se não se tem um foco, em qual ciência se abrigar e sentir que ali é seu espaço?.

Causa preocupação (poderia dizer, dó) de alunos que chegam ao 4º ano e vem nos pedir uma orientação  para que direção tomar. Daí oferecer logo no ingresso o tópico “Administração do tempo na vida universitária”. E tome perguntas, tais como: quem tem e usa agenda? Surpreende-nos que há diversos alunos que não tem uma e, em seguida: para que serve a agenda? Resposta mais comum: para marcar compromissos futuros. Só? Não poderia ser uma via de duas mãos (vaivém) para verificar se o ocorrido na semana, ou determinados eventos, não foram motivos de estresses no seu cotidiano? Neste ponto, apresenta e discutem-se os quadrantes (Stephen Covey – Os 7 hábitos de pessoas altamente eficazes) entregando-lhes a missão de listar as atividades passadas, enquadrando-as em um dos quadrantes (1º. Se foi urgente e importante; 2º importante, não urgente; 3º urgente, não importante, e, 4º não importante, não urgente). Será que o estresse atual não estaria condicionado ao enorme tempo gasto com atividades não importantes e não urgentes, não sobrando tempo para os quadrantes 1 e 2, por exemplo?

Em seguida, procurando gerenciar bem o seu tempo: “Não entre em todas, pois poderá não encontrar tempo para tudo”. E, neste caso, tome mais estresses. O melhor gerenciamento do tempo passa também pelo entendimento do que é aprender (tomar conhecimento) e apreender (tomar conhecimento + armazenar mentalmente), com desafios tais como: “o nosso aluno de graduação não constitui nenhum desafio para o professor, pois é dependente do que será dado em aula, jamais tentando antecipar o conteúdo programático. mesmo tendo a agenda semestral entregue no inicio das aulas.”. Apreender o que será ministrado é facilitado, se ler e aprender, no dia anterior, o que será dado no hoje, criando condições, inclusive, de formular questões coerentes (naquilo que causou duvida na leitura anterior à aula). Pratique e sentirá como é facilitada a apreensão do conhecimento. Com este exercício, sobra e se ganha muito tempo.

Depois a Universidade passa uma lição que não ocorre no dia-a-dia no mercado de trabalho. É comum, o aluno deixar para o dia anterior à prova (ou mesmo horas antes) a leitura e estudo de todo um material desenvolvido ao longo de dois meses. Daí, não tem jeito, bate o desespero, não há tempo disponível para tanta matéria, e, tome mais estresse. Perguntamos: que empresa marcará um teste dois meses após assinatura de seu contrato de trabalho? Numa organização a cobrança é diária, como se você fizesse uma prova a cada momento de trabalho. Por que, como o é na empresa, não acompanha a disciplina, passo a passo, mostrando participação e interesse no seu aprendizado? Com certeza, você estará combatendo e vencendo o estresse que vai se acumulando com o “em deixar tudo para depois” e gastar tempo se ocupando com atividades que se enquadrariam no quadrante “não importante, não urgente”.

Saber administrar o tempo é extremamente importante, pois é um misto de ciência e arte no direcionamento de sua vida. Por favor! Não prolongue sua adolescência, pois a universidade não é cursinho ou colégio. É o passo final para estocar e contabilizar o primeiro dia do resto de sua vida. Por favor! Não chegue ao ano final do curso com a mentalidade de quem está ingressando. Daí, num exame de consciência, verá que foram anos perdidos. Sempre afirmamos: “Se você escolheu a profissão certa, tem foco e se mostra motivado e extremamente interessado no conhecimento, a administração racional de seu tempo o levará a viver mais e melhor, sem precisar queimar etapas, para quem entra adolescente e precisa sair preparado para saber enfrentar o ‘day after’ à colação de grau”.

Se você entender que são recomendações que reduzirão os fatores estressores que o incomoda, pratique. Tempos depois, faça um balanço e, se estivermos certos, venha dizer: valeu! Xô, estresses!

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(texto para reflexão aos alunos de Engenharia Agronômica no inicio do curso. Nos dias de hoje na disciplina “Vida Universitária e Cidadania”, oferecida pela primeira vez em 2016, sob a responsabilidade dos Profs. Roberto A. de Souza Lima e Evaristo M. Neves)
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